Uma ramificação expressiva do brutamontismo deu origem à ineconomia; o termo não existe, mas já foi utilizado em manifestações artísticas brasileiras - comecei por tentar o termo mais óbvio 'deseconomia', mas pesquisei na internet e esse já existe, cuja definição é a seguinte: "a ausência de competência ou eficácia no uso de meios produtivos, provocando um aumento do custo de produção". Logo desisti de o usar, porque não é nada disso que eu queria dizer.
Aconteceu comigo outro dia, a máquina de lavar avariou, manda-se vir o eletricista, que diz que "é do painel, dantes era só substituir um fusível, uns poucos cêntimos, agora nem lhe toco, se lhe mexer nem da reparação posso dar garantia, tem de contactar um técnico da marca, que vai substituir todo o painel da eletrónica, que lhe vai custar mais de 100 euros só em material." E ainda acrescenta: "Desconfio que eles têm lá um software contador de lavagens e chegando ao número xis, a eletrónica fica disfuncional... e a máquina... fica sem funcionar, pronto".
Outro exemplo é a estratégia dos fabricantes de telemóveis para garantir que são substituídos por novos passados uns poucos anos. Desconfio eu que certos componentes são programados para, passados um par de anos, começarem a "chupar" energia, descarregando as baterias, por forma a que nem a substituição das baterias possa produzir o efeito desejado, só restando uma opção ao consumidor: comprar um novo e descartar o anterior.
Chamo a este estado de coisas 'ineconomia', em que há excesso de tudo, mas nada dura - os carros, os electrodomésticos, todo o tipo de aparelhagens, que em tempos que já lá vão eram feitos para durar a vida toda, ou pelo menos vinte anos, por exemplo, deixaram de o ser, propositadamente, para obrigar o consumidor a renovar a compra indefinidamente num período mais curto, por exemplo, um carro a cada cinco anos, um telemóvel a cada dois.
Convém esclarecer que a ineconomia não implica deseconomia: ausência de competência? Não; ineficácia no uso de meios produtivos? Também não. Aumento de custos de produção? Não. Do ponto de vista dos fabricantes, não existe ineficácia, ou se existir, essa ineficácia é propositada, e como dá lucros, transforma-se em eficácia. Logo não há deseconomia nos exemplos acima, trata-se de uma estratégia de sobrevivência (legítima?) dos fabricantes...
Mas do ponto de vista das pessoas, a noção de economia pressupõe uma melhor utilização dos recursos existentes, associada a uma noção de poupança também, e desse ponto de vista, dada a forma como a nossa economia atualmente funciona, proponho que seria melhor definida como ineconomia. E para rematar, as consequências nefastas para a economia das pessoas, e os desequilíbrios ambientais devido ao excesso de lixo e entulho, não são imputáveis a ninguém, porque todos acabamos por ser coniventes.
Tiro algumas conclusões daqui: quando uma economia, para dar lucro a alguns, dá prejuízo a quase todos, estamos perante um conflito de interesses, o qual é escondido, como se não existisse - e portanto, o que para uns (poucos) representa uma economia, para outros (muitos) é mais uma ineconomia. Mas então como se explica que todos aceitemos esta situação lesiva dos interesses da humanidade, do planeta? Explica-se porque os negócios mandam nos governos, e os governos em todos nós.
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