domingo, 25 de julho de 2021

Devoção

Inspirado pela leitura do livro 'Uma Vida com Sorte', escrito pelo meu amigo Valter Santos, e depois de lhe dar feedback sobre esse livro, que é acerca da sua própria experiência e crescimento ao longo dos anos, senti-me encorajado a escrever um pouco sobre a minha experiência, também em modo de retrospectiva. 

Além de ter participado em várias das vivências que ele descreve como discípulo de Prem Rawat, também me revi nos antecedentes descritos, a mesma geração, o auto-conhecimento pela meditação, a Índia pelos Beatles, a terceira visão pelo Lobsang Rampa, a música pelos Pink Floyd, a liamba pelos retornados, os ácidos pelos hippies, os amigos pelos delinquentes, enfim o abandono das receitas de felicidade oferecidas pela sociedade, tudo isso numa tenra idade... e depois a procura de um sentido diferente para a vida.

Quando um dia num apartamento degradado, cheio de papéis de revistas e jornais espalhados pelo chão, vi uma fotografia de Prem Rawat, na altura chamavam-lhe Guru Maharaji, a preto-e-branco, ele de branco, ali no chão à mercê duma pisadela, imediatamente a levantei e guardei junto ao peito. Essa fotografia passou a representar para mim a pureza, a inocência, a verdade, a simplicidade. Pendurei-a num armário no meu quarto, à frente da minha cama, e era a primeira coisa que via quando acordava - é que ao identificar-me com essa expressão, ao mesmo tempo lembrava-me de que também eu tinha um coração assim: puro, inocente, verdadeiro, simples; e agora lá vem a outra palavra: e então a 'devoção'?

Devo confessar que não gosto da palavra, pela conotação religiosa. Apesar de ter sido criado na religião católica, desenvolvi fortes anti-corpos contra alguns conceitos religiosos, tal como esse. Mas quando oiço dizer, como Prem Rawat disse ainda outro dia, 50 anos depois dessa fotografia ser tirada, que devíamos ter devoção pelo nosso planeta, devoção pela nossa natureza, devoção uns pelos outros, então é diferente, fico a pensar no caso. E sim, devoção pelo Mestre também. Pelo Mestre porquê? Então convém explicar.

Não é só porque a fotografia tirada quando ele tinha 13 anos, e que eu encontrei aos 17, me inspirou e me deu a confiança necessária para abrir o meu coração. Mas também pelo exemplo constante, pela lembrança constante, acerca da minha própria essência, da minha própria 'anima', do conhecimento que ele tem sobre esse tema, sobre a essência do ser humano, e pela dedicação constante, pelo apoio, pelo foco - sem essa lembrança do Mestre sobre a minha verdadeira essência, esta torna-se para mim como um sonho, e a fantasia - das aparências do mundo que me rodeia - torna-se para mim a realidade única. E as minhas crenças, mais sonhos. Até um dia, esse último dia, em que a realidade se imporá nua e crua.

Porque lhe chamo Mestre? Porque desempenhou esse papel para mim. Porque foi e continua a ser capaz de tornar evidente para mim, tornar sensível, o que é realidade em mim e o que não é. Tudo isto é subjectivo, portanto. Pois é, mas o importante - para mim - é ter a minha vida assente numa realidade - para mim - e não numa ilusão. E sem a clareza que ele me traz sobre a minha essência como ser humano, esse Conhecimento num instante se transforma numa abstração. Junta-se então à pureza, à inocência, à verdade, à simplicidade, um outro sentimento de reconhecimento e agradecimento - daí a devoção.

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