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'Catch 22' começou a ser cozinhado em Maio 2022, logo depois de sair o LP 'Ciclo Curvo'. Era para ser um EP cantado em Inglês. Começou só com duas músicas: "I Did It Again" e "My City". Às tantas passou de EP a LP, à medida que foram aparecendo mais temas. Vou descrever adiante como se foi desenvolvendo o processo de criação, pela ordem em que os temas foram surgindo.
Para ouvir o LP: https://contentor.bandcamp.com/album/catch-22
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| I Did It Again |
"I Did It Again" evoca um erro recorrente, mas que abre outras portas, e ao abrir portas deixa de ser assim tão erro, pode até tornar-se vantajoso a vários níveis. Desenvolve-se a ideia: rodeados de mentiras, grandes e pequenas, ainda assim procuramos verdades, mesmo onde elas não existem, e no final há sempre algo se aproveita, ganha-se sempre qualquer coisa, nem que seja juízo. Assim se esbatem (desbotam) erros, e bola p'rá frente, que nada disto é fácil de entender.
Para ouvir: https://contentor.bandcamp.com/track/i-did-it-again
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| Lisboa |
Quanto ao "My City", o tema acabou por não encontrar letra que lhe coubesse na música, era assim tipo "na-na-na-na-na-na... my city - na-na-na-na-na-na... my city" - fui então à procura no emaranhado da teia, por associação procurei "Lisboa", a minha cidade, e fiquei preso neste poema do afamado pseudónimo de Fernando Pessoa, Álvaro Campos, pela sonoridade do mote: "Lisboa com suas casas de várias cores".
Para ouvir: https://contentor.bandcamp.com/track/lisboa
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| Starting Over |
A música do "Starting Over" nasceu de um cover que fizemos do tema 'By this river' (Brian Eno), que depois abandonámos, mas aproveitei algumas notas desse tema para lhe cantar uma melodia nova, e o poema surgiu em Inglês, mais pela sonoridade das rimas, tudo à volta do recomeço, nem que seja preciso viajar para longe, abandonar sonhos, criá-los novos, enfim... a mensagem é: dê lá por onde der, hei-de arranjar maneira de recomeçar sempre.
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| Num Minuto |
Na altura este tema era suposto completar o EP: já havia um tema em Português, assim ficavam dois em Inglês e dois em Português - como é sabido, no final acabaram cinco em cada língua. Num minuto faz-se muita coisa, pensa-se ainda mais, pode sentir-se ainda muito mais. Pode prender-se a respiração. A imagem sugere um nadador de velocidade a fazer isso mesmo. Num minuto se tiram conclusões sobre uma vida inteira, um ser inteiro - abordam-se aqui assuntos de intenções, aquelas rapidezes de que são feitas as intuições... e os preconceitos também - saberemos distingui-los?
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| Coisas & Coisas |
Estava eu a ler um livro que me deu de presente a minha filha, sobre a historia do livro (O Infinito num junco' - Irene Vallejo), onde se descrevem os primeiros escritos que nos chegaram da antiguidade, e uma das descobertas da autora foi um poema anónimo que dizia algo assim: 'coisas que são belas em qualquer parte do mundo, coisas que causam incómodo a toda a gente, coisas que são breves, coisas de que gosto em particular', etc. - adorei a ideia, peguei nela, chamei-lhe minha e desenvolvi-a até onde pude e soube, neste "Coisas & Coisas".
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| Just Be |
Este tema foi escrito e gravado nas férias de verão, passando uns dias fora de casa, mas com uma sensação interior de estar em casa, o tema só é perceptível para aqueles fatalmente enamorados do próprio ser divino que os habita suavemente, enamorados também da própria capacidade de sentirem assim, o que os faz sentir em casa, noite e dia, e afortunados por isso. Para uns, uma loucura egocêntrica. Para outros, uma canção devocional.
Hesitei em incorporar este tema no álbum, mas foi bem recebido pela banda, e a partir daqui o 'Catch 22' deixou de ser um EP, vamos para o LP.
Para ouvir:
https://contentor.bandcamp.com/track/just-be
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| Come Riches |
Algo com que todos concordamos, venham as coisas boas! Felicidade, amizade, riqueza, sejam bem vindas! Para mim e para ti. Voltando à reflexão do tema anterior ('Just Be'), mesmo num assunto tão consensual há quem considere essa atitude abusiva, egoísta, desmesurada... eu não.
essas coisas que se dizem às plantas quando são transplantadas, que depois as vamos levar para um jardim, etc. - vê-se na foto, até agora cumpri.
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| Going Home |
"Going Home" - como sugere a imagem - impõe por vezes um cenário de obstáculos no caminho. Mas o tema é alegre, a paisagem bucólica, talvez o caminho siga um riacho que corre a contornar montanhas, vamos pela sombra, nada de escaladas. Nota-se um certo desajuste perante a realidade, e mais uma vez, tal como expresso acima ('Just Be'), isso não nos apoquenta, vamos para casa e como tal já estamos em casa; uma alusão a Goethe, 'construí a minha casa sobre o nada, é por isso que o mundo inteiro é meu'.
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| Gémeas |
Estava eu a ler um livro escrito por um conhecido jornalista, 'Cuidado com o cão', não gostei da escolha do título mas gostei do livro. A páginas tantas, já para o fim, a ler um diálogo entre as duas gémeas heroínas no livro, Adriana e Luciana, quando uma delas diz 'gostava de escrever uma canção', lembro-me de pensar para mim mesmo: 'porque não?' - e assim nasceu o tema, a primeira versão tinha mais de seis minutos, com o diálogo todo, depois veio a Mariana cortar e cortar até chegarmos ao tempo mais politicamente correto dos quatro minutos, já não coube a frase a dizer 'gostava de escrever uma canção', mas ficou o essencial do diálogo mental entre as gémeas - sim, o diálogo passa-se mentalmente, no decorrer de um abraço, depois de uma prolongada ausência; li, reli e disse para comigo, 'isto merece uma canção'.
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| Então Agora Sou Eu |
Tenho colaborado com o Miguel (Michael Noise) como letrista nos últimos álbuns, e como neste não havia nenhuma letra dele, pedi-lhe uma letra para o tema "A outra"; já tinha a música cantarolada, e não demorou sequer um dia para lhe encaixar a letra. Mas a banda censurou, parece "afinal havia outra", não sei quê, até que a Mariana sugeriu manter tudo e substituir "a outra" por "então", e assim surgiu o mote, "então agora sou eu", em vez de "a outra agora sou eu" - e toda a letra encaixou na perfeição. Ou seja, dizemos "é a minha vez", o resto são pormenores.
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| Blackbird |
Já tínhamos andado lá perto de fazer um 'cover' desta canção dos Beatles, desta vez o Carlos apareceu num ensaio a tocar a violada do Paul McCartney, embalámos e construímos o tema. E não foi nada trivial, pela primeira vez na história, que eu saiba, este tema teve os compassos acertados, em vez de 7,5 compassos nesta parte mais 2,5 naquela, etc. Depois havia a questão da tonalidade, no original em G, só se a Mariana cantasse em falsete, e assim foi - mas não há falsete que aguente aquela parte do "into the light of the dark black night" (por sinal a imagem representada acima), portanto tivemos de modificar essa frase, quanto ao tempo, para acertar os compassos e quanto à melodia da voz, que foi adaptada, e assim chegámos a esta versão.
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