sábado, 18 de dezembro de 2021

Ciclo Curvo

Chegou a altura de vos falar sobre o trabalho que preparámos para apresentar em 2022 para assim presentear os nosso fans (são poucos mas bons). O tema é o do livro "O ciclo curvo das noites", do meu amigo João Eduardo Ferreira, com ilustrações do Paulo Romão Brás, a quem cumprimentei pela primeira vez na apresentação do livro. Desse livro extraí cinco poemas para musicar, dos nove que compõem o álbum, e uma ilustração para servir de fundo à capa (artwork) do álbum que tomou o nome de "Ciclo Curvo". O nome da banda está anunciado na capa, como vão reparar, "Contentor 22", e esse nome provavelmente vai continuar a evoluir, se surgir a inspiração necessária para publicarmos outros trabalhos em 2023, 2024, etc. - isso daqui de tão longe ainda não sabemos.

E de facto é esse o tema, que cantamos à medida que os ciclos curvos das noites e dos dias vão ficando cada vez mais fechados, até um dia se transformarem num ponto, no momento da última expiração, após a qual não haverá mais nenhuma inspiração. É sabido que o tempo é relativo. E que para os mais velhos, acelera. Em pequenos temos um biorritmo mais acelerado que o do próprio tempo, e ele parece que não passa, um mês de verão parece-nos um ano. Depois chegamos àquele auge, para alguns aos 24-25, para outros 27-28, mais década menos década, em que estamos no topo da curva, bem sincronizados com o correr do tempo e a correr com ele, mas isso em rigor dura só um breve segundo, para logo se iniciar a curva descendente e a sensação de que o tempo está a acelerar, com o nosso biorritmo a ficar cada vez mais lento, até parar.

Pensando na teoria da relatividade, e constatando a inevitabilidade das conclusões do parágrafo acima, magiquei uma teoria original, nunca antes testada, nada mais nada menos do que a paragem do tempo. Pois se a relatividade nos ensina que há uma estreita relação inversamente proporcional entre o tempo e a gravidade, podemos imaginar que no centro do Universo o tempo parou, porque a gravidade nesse centro é tal que consegue fazer rodar em torno de si todas as galáxias. Não dá para imaginar a velocidade de rotação capaz de dar origem a tal força de gravidade, habitados que estamos a velocidades de rotação do tipo lunar, ou seja, de uma rotação por cada 28 dias de translação à volta da terra, mas aceitemos o facto como um princípio científico: o tempo chegou aí e parou.

E fazendo um paralelismo filosófico tão arriscado como necessário entre dimensões macro e micro, dentro de cada um de nós seres humanos está o reflexo de todo o Universo, e se assim é então no centro de cada um está o lugar onde o tempo é obrigado a parar, e nesse lugar, de uma gravidade extrema, tanto faz a idade, é irrelevante, não há idade, não se tem idade. O que há nesse lugar é segredo que não vou revelar, mas adivinho que seja desse lugar que nos nasce a respiração. Essa consciência é importante - sem ser preciso paranóia - porque nos dá a real perspectiva da coisa. Por um lado a fragilidade de nunca sabermos se virá outra. A certeza que um dia não virá outra. Por outro lado a noção do seu valor para nós. Hoje, sem sabermos - ou sem termos a certeza - se virá outra respiração, podemos suspirar de alívio: agora mesmo veio.

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