segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Plantação de chorões

Hoje foi dia de plantar chorões. Dois salgueiros chorões. Não sabia que tipo de árvore plantar no jardim em substituição do sobreiro-mor, cuja morte já foi aqui bem documentada. Não sabendo nada do assunto, fui pelo que me disseram, primeiro aconselharam-me um freixo, era só tirar dali um ramo e ia pegar de estaca. Depois afinal não, outras opiniões se impuseram, o freixo tinha de ser de raíz, e demora mais tempo, assim para crescer em meia dúzia de anos só se fossem chorões. E assim foi. O freixo teria de esperar pela sua oportunidade, tanto que não se encontrou nenhum do tamanho certo para ser transplantado - talvez mais adiante se encontre.

O meu vizinho apareceu de manhã com a enxada ao ombro tal como combinado, mais meia hora como é hábito na região. Há gente que por exemplo, se  diz às dez quer dizer entre as dez e as onze. Mas apareceu que é o que importa, e veio acompanhado pelos seus dois filhos, atravessando a ponte-canal, sempre a dizer 'tenham cuidado não caiam no canal'. Antes de chegar ao portão disse-lhes 'vão ali buscar umas estacas de chorão', e eles lá foram, ao pé da ribeira onde eles crescem, são árvores cujas copas chegam ao chão, por isso parecem arbustos gigantes - isto é, não sendo podadas como se quer. 

Escolhidos os dois ramos mais promissores, aguçada a ponta com uma navalha, cava-se uma pequena caldeira para no centro espetar o ramo, não sem antes aprimorar a operação com um pouco de húmus especial, uma mariquice trazida do supermercado da cidade que foi misturada na terra do local, meio saco para cada ramo. Depois faltava a o pormenor da cana, 'vão ali ao pé do canal escolher duas canas, mas tenham cuidado não caiam no canal'; parece impossível que uma coisa tão frágil dê afinal tanto apoio no crescimento da árvore, um cordel atando um e outro, um balde de água, e lá ficaram os dois ramos apoiados cada um em sua cana, como se vê na foto.


Não acabou o dia sem novo investimento arbóreo, pois se os chorões são campeões do crescimento rápido, os sobreiros são-no do lento, logo achámos que faziam um bom conjunto. Curiosamente, apareceram espalhados pelo jardim vários rebentos de sobreiro, provavelmente filhos do defunto sobreiro-mor - parece ser assim que todos os seres vivos se perpetuam - e assim escolhemos quatro desses rebentos, a uma distância prudente entre si e da casa, os quais rodeámos com um cilindro de rede, para que não sejam ceifados em tenra idade nas próximas operações de tosquia da relva. 

Diz-se na região à laia de ditado: 'quem pensa nos filhos planta um pinheiro, e quem pensa nos netos planta um sobreiro' - é assim porque o sobreiro dura uns quarenta anos a crescer - falta acrescentar ao ditado '... e quem pensa em si mesmo planta um chorão'; se for assim, pensámos em nós próprios e nos netos. 



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